Da BBC
Existem seres vivos que são muito mais numerosos, estão mais espalhados pela superfície da Terra e representam uma parcela maior da biomassa do planeta do que nós.
Certamente nós causamos enormes impactos em todos os cantos do globo e em seus outros habitantes. Mas será que existem seres vivos com uma influência maior e mais significativa? Quem, afinal, domina o planeta?
Superpopulações
Se a resposta for apenas uma questão numérica, nenhuma espécie pode se comparar aos colêmbolos (Collembola), criaturas de seis patas que mais parecem com minúsculos camarões, medindo entre 0,25 e 10 milímetros. Em cada metro quadrado de terra há cerca de 10 mil desses animais, mas em alguns lugares essa concentração pode chegar a 200 mil por metro quadrado.
As 6 mil espécies dessa ordem de artrópodes podem ser encontradas em todos os habitats do mundo, de praias tropicais às geleiras da Antártida.
Assim como os fungos, os colêmbolos aceleram a transformação de plantas mortas em nutrientes reutilizáveis. Sua importância nesse processo varia de acordo com cada habitat, mas estima-se que eles sejam responsáveis por até 20% da decomposição de matéria orgânica morta em alguns lugares.
Outro animal campeão, em termos quantitativos, é a formiga. Cientistas calculam que existam de 10 quatrilhões a 1 septilhão (um milhão de quatrilhões) delas no planeta. É o inseto mais numeroso do mundo.
E, apesar de representarem uma população menor que a dos colêmbolos, as formigas têm muito mais capacidade de influenciar o ambiente onde vivem.
"As formigas controlam cada milímetro da superfície da Terra que habitam, o que quer dizer a maioria dos lugares", afirma Mark Moffett, entomologista do Instituto Smithsonian, em Washington, e autor do livro Adventures Among Ants (Aventuras entre formigas, na tradução livre). "Elas administram esses territórios alterando ou removendo elementos para seu próprio benefício."
O controle das formigas ocorre de várias maneiras: ao revolverem mais terra do que as minhocas, ao removerem seus mortos para reduzir a transmissão de doenças e ao travarem verdadeiras guerras com populações inimigas. As formigas são também capazes de cultivar fungos como alimentos e até usar um pesticida bacteriano para aumentar a produtividade desses cultivos.
Elas ainda "domesticam" afídios (ou piolhos-de-plantas) com a finalidade de extrair deles uma substância chamada de melada, da qual as formigas também se alimentam.
Questão de especialização
Não podemos nos esquecer das plantas. A biomassa das espécies vegetais existentes no planeta é cerca de mil vezes maior que a dos animais. E, enquanto outras formas de vida podem ser mais numerosas, mais diversificadas e claramente mais assertivas, a vasta maioria não existiria sem o oxigênio liberado pela vegetação através da fotossíntese.
As angiospermas, capazes de dar flores, representam quase 90% de todas as espécies de plantas no planeta. Elas também estão na base da grande maioria dos ecossistemas terrestres.
Só que isso não quer dizer que elas mandam na Terra. Afinal, a dominação também pode ser uma questão de diversidade e especialização.
E nenhum outro ser vivo tem mais estratificações especializadas do que os besouros. Cientistas já catalogaram cerca de 400 mil espécies desses insetos – ou seja, eles representam de 20% a 33% de todas as formas de vida já reconhecidas no mundo.
"Os besouros são o grupo dominante nos ecossistemas terrestres", afirma Max Barclay, diretor da coleção de besouros do Museu de História Natural de Londres. "Eles dividiram o mundo em pequenas partes para se especializaram em diferentes tarefas, conseguindo coexistir sem entrarem em competição".
Não é só a capacidade de adaptação que coloca os besouros na lista de possíveis "reis do mundo". Eles também exercem um papel fundamental na maioria dos ecossistemas, liberando nutrientes para outros seres vivos – ao se alimentarem de madeira ou esterco, por exemplo.
E se os insetos não existissem (e 40% deles são besouros), a maioria das plantas não seria polinizada e não estaria no planeta para produzir o oxigênio de que tanto precisamos.
Manipulação microscópica
As do gênero Wolbachia são um exemplo particularmente bom da dominância imperceptível desses microrganismos. Extremamente engenhosas e bem espalhadas, essas bactérias vivem nas células de cerca de 60% de todos os insetos e outros artrópodes, como as aranhas e os ácaros.
Elas são transmitidas de uma espécie a outra através dos óvulos das fêmeas hospedeiras, e por isso conseguem manipular esses organismos para aumentar suas próprias chances de sobrevivência. Isso inclui táticas como induzir mudanças para transformar em fêmeas os machos de borboletas, cupins e crustáceos.
Essas bactérias também conseguem fazer alterações nos cromossomos de abelhas e formigas para que elas consigam se reproduzir sem a necessidade de um macho. Elas ainda são capazes de matar embriões machos em espécies onde existe muita competição por recursos entre filhotes.
"Pela maneira como manipulam e alteram seus hospedeiros, as Wolbachia podem ter sido o principal motor de mudanças evolucionárias em muitas espécies", afirma John Werren, professor de biologia da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.
Não é de se espantar que essa bactéria seja uma forte candidata ao posto de ser vivo mais dominante do mundo.
'Quatro pilastras'
Mas não podemos esquecer que nem só de terra firme vive a Terra, e que nem tudo o que produz oxigênio é planta.
A verdade é que a atmosfera terrestre continha pouquíssimo oxigênio até o advento das cianobactérias, que evoluíram para se tornarem os primeiros organismos fotossintéticos, há 2,5 bilhões de anos.
Essa mudança na atmosfera foi o que abriu caminho para a biodiversidade que temos hoje no planeta.
A cianobactéria forma uma sequência móvel de células que podem se destacar de suas colônias para formar novas. Podem ser encontradas em quase todos os habitats terrestres e aquáticos, vivendo entre fungos, plantas e animais e formando a gigante massa visível azul-esverdeada dos oceanos.
Além de gerar oxigênio, elas exercem um papel fundamental com sua capacidade de converter o nitrogênio atmosférico em nitrato orgânico ou amônia, nutrientes essenciais que as plantas retiram do solo para crescerem.
Essas funções e sua onipresença em todos os habitats fizeram muitos cientistas argumentarem que as cianobactérias são os mais importantes e mais bem-sucedidos microoganismos da Terra.
Mas para Moffett, do Smithsonian, a melhor maneira de definir quem domina o planeta é pensar em diferentes escalas físicas. "Se levarmos em consideração os tamanhos dos seres vivos, poderíamos dizer que os micróbios dominam sua escala, o Homem domina sua escala e as formigas tendem a dominar tudo o que está no meio", diz.
Já Sandy Knapp, diretora do setor de plantas do Museu de História Natural de Londres, acredita que é impossível se chegar a uma resposta para essa pergunta porque os seres vivos são interdependentes. "É a mesma coisa que perguntar qual das quatro pilastras sustentando uma casa é a mais importante", afirma. "Se você tirar uma delas, verá que tudo vai desmoronar."
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