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Mas aglomerações do tipo não estão perdidas em algum lugar do passado. De enxames de gafanhotos de mais de 170 km de comprimento a exércitos de caracóis, conheça algumas das pragas que acontecem quando uma espécie sai de controle.
'Maré vermelha'
Quando plâncton microscópico recebe uma dose extra de nutrientes, sua população explode. O pigmento das algas faz a superfície da água parecer vermelha, o que faz a eflorescência algal ser conhecida como "maré vermelha".
Algumas marés vermelhas são destrutivas, matando a vida marinha e arruinando a pesca. Estas são conhecidas como eflorescências algais prejudiciais (HABs, na sigla em inglês). Pode haver milhões de microrganismos por litro d’água, o que impede que a luz do sol chegue a qualquer planta ou animal abaixo dela.
Assim como cobrir a água, as marés vermelhas podem ser tóxicas. Algumas espécies de alga têm neurotoxinas que, consumidas por peixes pequenos, se acumulam ao longo da cadeia alimentar com consequências devastadoras.
No verão de 2015, uma maré vermelha gigantesca ocorreu do sul da costa da Califórnia até as ilhas Aleutas, no Alasca. Ela produziu uma grande quantidade de neurotoxina chamada ácido domóico. A pesca foi proibida na costa dos EUA e muitas baleias morreram no Alasca.
Mosquitos
Apenas os mosquitos fêmeas se alimentam de sangue, como parte de seu ciclo reprodutivo. Milhares de mosquitos machos voam em grandes enxames procurando por amor, e acabam formando pares com qualquer fêmea que entra nesta nuvem. Além de esperma, os machos passam secreções que estimulam a produção de ovos.
Alguns dos maiores enxames de mosquitos foram vistos no Alasca durante o curto verão ártico. Há 35 espécies de mosquito no Alasca.
Os insetos são tão abundantes que conseguem alterar o percurso de uma das maiores migrações do mundo animal: a renas mudam seu caminho para evitá-los.
Efêmeras
Os efemerópteros são chamados, em inglês, de "mayflies", ou insetos de maio. Têm esse nome porque milhares deles voam juntos no início da primavera no hemisfério norte.
Assim como os mosquitos, os efemerópteros, também chamados de efêmeras, têm um pensamento único. Eles se levantam em grandes enxames para acasalar e botar ovos, antes de cair no chão, exaustos.
Nos últimos anos, os exames de acasalamento das efêmeras foram tão grandes que radares captaram sua presença. Em parte, isso mostra como radares modernos são sensíveis, mas os enxames realmente são densos. Em 2014, eles foram responsabilizados por acidentes de carros em La Crosse, Wisconsin e no rio Mississippi, nos EUA.
"Elas são realmente um incômodo. As pessoas reclamam do cheiro das efêmeras mortas cobrindo o chão e de ter que varrê-las do chão e das calçadas", diz Tom Klubertanz, da Universidade de Wisconsin em Janesville.
Mas, apesar de tornar difícil dirigir, as efêmeras não são prejudiciais e são consideradas um sinal de ambiente saudável.
“As efêmeras são boas indicadoras da qualidade da água”, diz Klubertanz.
Gafanhotos
O problema são suas duas personalidades. Os gafanhotos começam a vida como insetos inofensivos e solidários. Mas, com as condições certas, eles se transformam em criaturas coloridas, musculosas e com apetite pela destruição.
Em 2009, cientistas descobriram que um químico cerebral chamado serotonina era responsável pela mudança. Na estação seca, quando a vegetação é esparsa, os gafanhotos competem por alimento e isso faz com que liberem serotonina, fazendo com que voem para novos pastos.
Os gafanhotos turbinados se alimentam de plantações e crescem no lugar em que o vento os leva. Pragas de gafanhotos ameaçam plantações pela Ásia, África, Oriente Médio e Austrália.
O maior já observado foi o "Enxame de Albert", nomeado em homenagem ao entusiasta do clima Albert Child. Em 1875, no Nebraska, ele observou um enxame de mais de 170 km de largura e cerca de 800 m de profundidade.
Podem ter sido mais de 3,5 trilhões de gafanhotos da espécie Melanoplus spretus no enxame, segundo Jeffrey Lockwood, da Universidade de Wyoming em Laramie.
Mas essa espécie particular de gafanhoto ficou na história. Ela desapareceu subitamente no final do século 19, quando seus ovos foram danificados pela agricultura em grande escala.
Lagartas
“É complicado determinar quando um surto termina e outro se inicia”, diz Ken Wilson, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e chefe da Armyworm Network.
“Sabemos que há muitos surtos durante a temporada delas, então a área infestada total pode se estender por milhares de hectares em um ano. Se você multiplicar isso pelo número de países afetados em um ano ruim, estamos falando de milhões de hectares.”
As lagartas se alimentam de cereais como milho, trigo e arroz. Wilson diz que as ocorrências têm relação com as primeiras chuvas de outubro.
Quando as lagartas se transformam em mariposas, elas migram de acordo com o vento, o que faz o surto se espalhar.
Pesquisadores estão desenvolvendo um novo pesticida biológico, baseado em um doença natural da lagarta, que pode acabar com o problema de uma vez por todas.
Pássaros quelea
A quelea do bico-vermelho está em quase todos os países subsaarianos. Com uma população total estimada em 1,5 bilhão, eles provavelmente são a maior população de pássaros do mundo.
Eles são pássaros pequenos com o bico vermelho. Se alimentam de grãos e sementes, o que pode ser um problema quando elas se juntam e atacam, em grande grupos, plantações.
Por isso, elas foram apelidadas de "gafanhotos com penas".
Caramujos gigantes africanos
Caramujos adultos podem atingir 20cm de comprimento, o que os torna animais de estimação - ou até lanchinhos - populares. Acredita-se que seu limo provoque benefícios cosméticos.
Isso significa que as pessoas costumam enviá-los pelo mundo. E com o transporte acidental de ovos deles em plantas, containers e malas, a espécie teve diversas oportunidades para invadir territórios.
Você pode pensar que caramujos que se movem tão lentamente não deveriam ser motivo de preocupação, mas eles se reproduzem rápido. São hermafroditas, com órgãos sexuais masculinos e femininos, então cada caramujo pode produzir centenas de ovos por ano. Apenas quatro anos após sua introdução em Fiji, 20 toneladas de caramujos foram recolhidas em um só dia.
Para se reproduzir, os caramujos abrem caminho por plantações. Eles gostam, por exemplo, de repolho, abóboras e ervilhas.
Os caramujos também comem fezes de ratos e podem contrair parasitas que ameaçam os humanos.
Águas-vivas e afins
De medusas-da-lua inundando usinas de energia a águas-vivas de Nomura virando barcos de pesca japonês, grandes grupos dessas criaturas certamente chegaram às notícias neste ano.
Mas biólogos marinhos estão divididos sobre se as águas-vivas estão mesmo aumentando.
Em uma tentativa de acabar com a discussão, uma base de dados chamada Jellywatch foi montada para registrar as aparições, mas, no fim das contas, descobriu-se que é difícil registrar animais transparentes no meio do oceano.
A ideia de uma praga de criaturas gelatinosas pode te fazer rir, mas o dano causado por "águas-vivas" da espécie Mnemiopsis leidyi no Mar Negro não é brincadeira.
Apesar de parecerem águas-vivas, essas criaturas pertencem, na verdade, a um grupo relacionado. São transparentes da mesma forma e difíceis de serem detectadas, elas pegaram carona até o Mar Morto nos anos 1980 na água de lastro de barcos da casa original delas, nas costas leste da América do Norte e do Sul.
Elas encheram o Mar Negro, chegando ao pico de 400 por metro cúbico de água em 1989, e devoraram os pequenos animais que formam a base da cadeia alimentar: zooplâncton, larvas de moluscos e ovos de peixes. Apesar de medidas de controle, até hoje a pesca na região não se recuperou.
Formigas
Elas podem ser pequenas, mas formigas provocam um grande estrago.
Originárias, supostamente, do oeste da África, as "formigas amarelas loucas", como são conhecidas em inglês as formigas da espécie Anoplolepis gracilipes, invadiram a Ilha Christmas, no Oceano Índico, nos anos 1930, após pegar carona em barcos comercias.
A ilha é mais conhecida por seus camarões vermelhos nativos, que fazem um espetáculo todos os anos, quando até 50 milhões deles vão para o mar para o período de procriação.
Mas até um terço da população foi devastada recentemente pelas formigas invasoras.
Em 2002, as formigas haviam invadido 30% do território da ilha. Um estudo de 2005 registrou a maior densidade já vista das formigas invasoras no local, com 2000 por metro quadrado nas supercolônias.
As grandes pernas dessas formigas podem caminhar por muito chão. A velocidade média em que essas supercolônias se espalham é calculada em 3 metros por dia, o equivalente a 1,1 km por ano.
Para livrar a ilha da peste, medidas extremas foram tomadas. Em 2002 e 2009, helicópteros lançaram iscas envenenadas. Para o alívio de alguns, essas ações diminuíram as populações de formigas "loucas". Mas elas são apenas uma das frentes da invasão mundial das formigas.
Camundongos
Em regiões que cultivam cereais, uma peste de camundongos acontece praticamente em um a cada quatro anos. As densidades podem chegar a 2.700 ratos por hectare em armazéns de grãos, destruindo a colheita e a sobrevivência de quem depende dela.
Desde 1980, pestes de camundongos estão aumentando na Austrália, ligadas a práticas de agricultura mais intensivas. A pior de que se tem registro ocorreu em 1993: ela pode ter custado aos fazendeiros 64,5 milhões de dólares australianos.
Essas explosões populacionais estão ligadas a secas e chuvas fortes, mas nenhuma causa específica foi identificada como o gatilho disparador. Em condições favoráveis, uma boa fonte de alimentação, poucas doenças e poucos predadores, o número de camundongos explode.
Camundongos fêmeas podem ter ninhadas de em média seis filhos todos os meses, e os filhotes começam a se reproduzir cinco semanas depois. Proporções de pestes podem ser atingidas em apenas nove meses.
Em abril de 2015, cientistas recrutaram fazendeiros para que eles reportassem quando vissem camundongos por meio de um aplicativo na "Primeira Semana do Censo de Ratos da Austrália". O objetivo era prever futuras "explosões".
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