Frio na neve e focinho vermelho? Os mitos sobre as renas

Renas não sofrem tanto quanto imaginamos
"O Natal, inevitavelmente, traz muita atenção para as renas. Mas esses animais são mais do que puxadores de trenós e temas de canções sobre narizes vermelhos: renas são um exemplo de adaptação a uma vida de extremos no Ártico.



"Frequentemente ouve-se dizer que esses animais vivem de modo espartana em um mundo frio e escuro", explica Nicholas Tyler, do Centro de Estudos Sami da Universidade de Tromso, na Noruega.

Quando ele começou suas pesquisas com renas, nos anos 70, a opinião predominante era a de que o Ártico era um lugar terrível, e que animais e plantas locais "faziam milagres para sobreviver".

Segundo Tyler, porém, as últimas décadas de estudos mostram que a maioria absoluta das criaturas árticas passa os meses de inverno aquecidas e bem-alimentadas. E a rena, cujo nome científico é Rangifer tarandus, exemplifica isso bem.

Focinho versátil

O pesquisador passou anos estudando os animais ungulados em Svalbard, um arquipélago que fica entre a Noruega e o Polo Norte. Ele conta que o pelo das renas é incrivelmente isolante. É tão quente que as renas precisam de livrar dele durante o verão ártico. É apenas nessa época, quando as temperaturas mínimas podem chegar a 1ºC, que a população de renas podem sentir frio.

Mesmo em temperaturas polares, a rena não tem problemas com o frio, mas sim com o calor
Na verdade, quando o assunto é o frio, o desafio da rena é bem diferente do que se pode imaginar. Humanos, por exemplo, evoluíram em climas tropicais. Quando estamos nus, precisamos acelerar nosso metabolismo para nos mantermos aquecidos se a temperatura baixar dos 25ºC. Para as renas, a temperatura crítica é "apenas" 40ºC... negativos.

Bem isolada por seu pelo, a rena acaba passando calor se precisa se movimentar com mais rapidez. E o problema é livrar-se desse excesso: para evitar problemas com o superaquecimento, a rena dispersa o sangue para a região das patas. Usando testes com renas em esteiras de corrida, Tyler e colegas descobriram que elas também conseguem reduzir sua temperatura ofegando como cães, para evaporar água de suas línguas.


Quando precisam ficar quentinhas, um grande mecanismo das renas para lidar com temperaturas baixas são seus focinhos: conseguem reduzir a temperatura do ar expirado para algo em torno de 21ºC, o que preserva calor - no ser humano, por exemplo, a temperatura de saída é 32ºC.

Mas os narizes são versáteis a ponto de as renas poderem usá-los para dispersar calor e evitar o superaquecimento e a fadiga - "quando são perseguidas, por exemplo", explica Tyler.

Os olhos das renas mudam de acordo com a estação

Ah, ao contrário do que diz a canção sobre a rena Rudolph, os focinhos NÃO são vermelhos.

Ok, sabemos que as renas lidam sem problemas com o calor/frio. Mas e a questão da falta de luz no Ártico?

Os olhos das renas realmente precisam se adaptar à quase ausência de sol no inverno ártico, e a pelo menos dois meses de luz ininterrupta no verão. Sendo assim, elas não trocam apenas de pelo, mas de olhos também.

Glen Jeffery, do Instituto de Oftalmologia da Universidade de Londres, não tinha interesse algum em renas, mas tudo mudou quando biólogos noruegueses enviaram-lhe olhos de renas mortas durante os solstícios de verão e inverno.

Jeffery os dissecou e descobriu diferenças radicais: nos meses de verão, a superfície refletiva por trás da retina era dourada, como a luz amarelada vista nos olhos de muitos mamíferos à noite. No inverno, porém, a superfície mudava para algo azul escuro. "Nunca se tinha ouvido falar de um animal mudando o reflexo de seus olhos durante estações", explica o oftalmologista.

Tecnologias humanas interferem com a visão das renas e sua capacidade de se alimentar
A mudança para o azul permitia às renas deixar que menos luz escapasse de seus olhos nos meses de escuridão, o que aumentava sua sensibilidade visual. Algo bastante útil para a busca por alimento em meio à neve. "As renas conseguem ter mais contraste em um ambiente onde há poucas diferenças visuais", diz Jeffery.

No entanto, ambientes mais urbanos causam problemas. Linhas de energia emitem pulsos de luz ultravioleta que são captados pelos olhos das renas, também afetados por luzes artificiais.

Isso faz com que, no inverno, elas possam ter dificuldades para enxergar. Algo ainda mais preocupante diante da expansão urbana nas regiões em que vivem, com a construção de estradas e projetos de eletrificação rural, além da perda de áreas de pastagem."
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