Da BBC Brasil
Depois do sexo, o polvo macho não costuma esperar nenhum tipo de reação da fêmea. Mas cientistas em pesquisa na ilha de Fiabacet, na Indonésia, testemunharam um caso que os deixou perplexos.
Após o acasalamento, uma fêmea acariciou com seus tentáculos o macho, lentamente o envolvendo por completo. De repente, ela começou a apertá-lo, expulsando toda a água que tinha em seu corpo, o "sufocando" até a morte.
Canibalismo
As aranhas viúva-negra e o louva-a-deus são exemplos famosos de fêmeas que matam o macho antes ou depois do acasalamento.
Os mosquitos fêmeas da família chironomidae perfuram a cabeça do macho no momento em que ele está injetando seu sêmen. Depois, elas carregam os restos mortais do mosquito macho por vários dias.
Em alguns casos, o macho é uma fonte rica em nutrientes, especialmente após o acasalamento. As aranhas do gênero argiope costumam comer o macho após a segunda inseminação.
Ternura ou violência?
Por anos, os polvos sempre foram vistos como criaturas dóceis. Apesar de serem relativamento violentos ao comer - agarrando suas presas com seus oito tentáculos e as levando até a boca - os polvos não têm comportamento agressivo.
É mais provável que, diante de uma ameaça, eles procurem fugir rapidamente, segundo a bióloga marinha Christine Huffard, do Monterey Bay Aquarium Research Institute, na Califórnia.
Na verdade, os polvos passam a maior parte do tempo tentando ficar "invisíveis" no mundo marinho. "Ser agressivo demais contra outros animais no mar seria prejudicial a essa estratégia, por atrair atenção demais", diz a bióloga.
Em alguns casos, os polvos são mais agressivos - principalmente se estão brigando uns com os outros por comida. Nesses casos, eles se agarram com os tentáculos e ficam se puxando e empurrando. Mas raras são as vezes em que eles tentam estrangular o rival.
Raro?
O primeiro aconteceu durante um mergulho em Fiabacet. O macho e a fêmea passaram 15 minutos no acasalamento. Ao final, a fêmea passou outros dois minutos tentando agarrá-lo, usando seus tentáculos. Depois de outros dois minutos apertando o corpo do macho, ele finalmente parou de se mexer.
O polvo macho foi então arrastado para a toca marinha da fêmea, em uma barreira de corais, onde os cientistas acreditam que ela o comeu.
Os detalhes do episódio foram publicados na revista científica Molluscan Research. Um outro relato no mesmo artigo fala sobre um encontro semelhante entre dois polvos de espécies diferentes.
A literatura científica também registrou outro episódio, em 2007. Na ocasião, uma fêmea passou dois dias comendo os restos do macho que matou - com quem havia acasalado por 13 vezes.
Os cientistas ainda não sabem dizer o quão comum esse tipo de abordagem é. Até agora acredita-se que é o único episódio de morte por estrangulamento registrado entre animais invertebrados.
A tática de estrangulamento é bastante sofisticada, pois a fêmea consegue impedir que o polvo macho solte tinta na água - que é um dos mecanismos de defesa do polvo. A tinta serve para turvar a água, dificultando a percepção dos predadores. Além disso, a tinta pode conter químicos que provocam irritação.
"O método usado pelo polvo fêmea para capturar e matar seu parceiro - segurando-o com seus vários tentáculos - é novo, mas só porque nenhum outro animal possui as mesmas características do polvo", diz o zoólogo Mark Elgar, da Universidade de Melbourne.
"Quanto mais nós entrarmos na água para assistir aos animais de longe, mais teremos condições de descobrir porque uma fêmea céfalopode mata o macho após o sexo", diz."
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